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Responsabilidade Social: um remédio para a imagem da Indústria Farmacêutica

por Deborah Portilho
Revista GRUPEMEF, nº 88, ano 27, Nov./Dez. 2005

A indústria farmacêutica sempre enfrentou enormes desafios, porém há um que parece nunca poder ser superado: o de melhorar a sua imagem perante a opinião pública. Obviamente, muitos fatores têm contribuído para esse cenário. Entretanto, existem vários aspectos positivos sobre a indústria farmacêutica, sendo o principal deles a Responsabilidade Social crescente do setor, a qual não tem sido suficientemente divulgada e, se for, pode inclusive servir de “remédio” para o “mal da imagem”.

Uma pesquisa feita pela The Harris Pool Online, em fevereiro de 2004, constatou que apenas 14% dos americanos consideram as indústrias farmacêuticas confiáveis. Se a pesquisa tivesse sido feita no Brasil, provavelmente teríamos um resultado semelhante.

Realmente, se considerarmos que sensações associadas a perdas são sempre mais fortes que aquelas associadas a ganhos, é até compreensível que as pessoas não vejam com bons olhos a indústria que fabrica medicamentos que, embora curem, também causam malformações em bebês, provocam diversos efeitos colaterais e até mortes. Além desses, existem outros problemas que fogem ao controle dos laboratórios, como o caso das pílulas de “farinha” fabricadas para testar uma máquina nova e que foram furtadas dentro do próprio laboratório, provocando a gravidez indesejada de dezenas de mulheres.

Dentro de uma outra categoria, figuram casos como o do CELOBAR, do Laboratório Enila, cujo princípio ativo foi adulterado e acabou ocasionando a morte de pelo menos 21 pessoas. Para piorar, existem os problemas e as mortes causadas pelos remédios falsificados, os quais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), representam um comércio de US$ 35 bilhões e já constituem 10% dos remédios comercializados no mundo.

Mas, além das vítimas das pessoas e empresas inescrupulosas, quem paga a conta dos medicamentos falsificados e adulterados? A imagem da indústria farmacêutica idônea, é claro.

Contudo, o setor não é melhor nem pior que outros. Ocorre que, historicamente, o mundo tem sido dividido entre “mocinhos” e “bandidos” e essa cultura simplista impede que vejamos qualquer lado positivo daqueles a que foi atribuído o papel de “bandido”. Parafraseando Artur da Távola: façam o que fizerem, dos mocinhos todos falarão bem; e dos vilões, também, façam o que fizerem, todos falarão mal. Assim era e assim continua sendo.

Sobre esse aspecto, a mídia, ao definir que assunto será manchete, sob que enfoque e com que ênfase, pode ter contribuído para a construção da imagem que a indústria farmacêutica tem hoje perante a opinião pública.

Além disso, temos cineastas como Michael Moore, que escolheu a indústria farmacêutica como alvo de seu próximo filme, e o nosso festejado Fernando Meirelles, que acaba de lançar o filme O Jardineiro Fiel, o qual tem como pano de fundo a indústria farmacêutica e que, segundo ele, “mostra como se ganha dinheiro com a doença dos outros”. Livros, documentários e filmes como esses certamente contribuem para piorar, e muito, a já combalida imagem dos laboratórios.

Para completar, o governo assume posturas demagógicas e transfere para as patentes farmacêuticas e para os preços dos medicamentos em geral (que, diga-se de passagem, no Brasil estão entre os cinco mais baratos do mundo) a culpa pela ineficiência do sistema de saúde, beneficiando-se, assim, indiretamente, da imagem negativa da indústria farmacêutica.

Além disso, o governo acusa os grandes laboratórios de só se preocuparem em pesquisar e fabricar medicamentos para as doenças do primeiro mundo, negligenciando aquelas que não oferecem lucro. Entretanto, não é isso que se constata. Na realidade, esses laboratórios possuem inúmeros programas de responsabilidade social que contam com centros de pesquisas para as chamadas doenças negligenciadas, tais como a tuberculose e a dengue, bem como com programas para melhorar o acesso dos países do terceiro mundo aos medicamentos que são implementados em parcerias com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Ministérios da Saúde de vários países. Graças a esses e outros programas, doenças como a hanseníase, a malária e a “cegueira do rio” são tratadas gratuitamente, inclusive no Brasil. Entretanto, por algum motivo, que obviamente não é a falta de importância ou relevância desses projetos, eles simplesmente não viram notícia.

De qualquer forma, a verdade é que a indústria farmacêutica tem se mostrado um dos setores mais preocupados com a melhoria da qualidade de vida, promovendo ações de Responsabilidade Social tanto internas como externas. De acordo com uma recente publicação da FEBRAFARMA – Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica, intitulada “Painel Social do Setor Farmacêutico”, em 2004, 60 laboratórios, tanto multinacionais quanto nacionais, investiram pesadamente em 407 programas que beneficiaram 8,7 milhões de brasileiros, mais que o dobro dos 4,1 milhões beneficiados em 2002.

Como se verifica, investimentos e ações sociais não faltam. O que falta é dar-lhes a visibilidade necessária e da forma adequada. Só esse “remédio” será capaz de fazer com que a opinião pública perceba que os escolhidos para “bandido” não são tão maus assim e consiga enxergar o lado nobre da indústria que desenvolve remédios que curam, salvam e prolongam vidas e cujas ações de responsabilidade social estão ajudando a construir uma sociedade sustentável e justa, bem como um mundo melhor.

É claro que esta não é uma tarefa fácil. Mas, para o calibre do Marketing brasileiro, ela não pode ser considerada difícil, muito menos impossível.

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